18/01/2011

ESPELHOS



Pesa-me a eternidade
a infinidade de máscaras ocultas
por trás
desse rosto novo.
O peso dos séculos
vividos e perpassados
eu tenho em mim
toda a história contida.
Histórias e lendas
de tempos remotos
reinados e revoluções
navegam livres
em minha memória.
Eu trago em meu corpo
marcas de nascimento e morte
tantas vezes vividos.
Pesa-me neste momento
a culpa de tanta vida
acumulada.
Milênios de paixões
e erros
arrastam-se em mim
como segundos.
Pesa-me a inércia
que me vem
sobrecarregada de gestos.
Enquanto em mim
guardam-se todos os segredos.
Viagens e voltas
num redemoinho de águas
me transpassam
Trago escondidas
as rugas, os choros,
as luzes esparsas.
Pesa-me a eternidade
capaz de caber
no meu corpo magro.
Cansa-me todo o passado
de onde
eu não vim só.
Uma multidão me atravessa
com seus rostos múltiplos
e  eternos.
Alegra-me a imortalidade
que me permite
despir tanto peso.

Miriam Portela
In O Continente Possuído
foto de a Etienne33

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