20/02/2011

A MINHA DOR


A você

A minha dor é um convento ideal
Cheio de  claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm sombras d´agonia
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro!
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

Florbela Espanca
In A Mensageira das Violetas
tela de Tamara de Lempicka

Um comentário:

Zabot disse...

Florbela

Quanta saudade desse olhar outonal,
ó Florbela!...
Negritude sobrepondo-se ao horizonte.
Vergéis de aurora. Outrora.
Por onde andas, colhe-se o trigo, dourados cachos maduros.
Belo poema, bela evocação!

Onévio