01/11/2010
ANGELUS
O anjo que renasce com a tua luz, a forma
obscura do seu voo, o canto abstrato
que o envolve, são os motivos do meu canto.
Podia não saber que um anjo tem a figura
do espaço, no azul mais fundo do meio-dia,
ou na treva para que a noite nos arrasta.
É de onde um bater de asas celeste se ouve
que tudo começa, como quando te vejo sair
dessa esquina de memória em que te escondo.
Partilho com esse anjo uma refeição de salmos,
e perguntas-me se é isso que espero da vida,
ou até onde poderei adiar a minha morte.
"Não dependem de nós as últimas decisões",
digo-te, olhando o vazio nos olhos brancos do
anjo que resolve um último problema de xadrez.
E enxoto-o para o seu ninho de nuvens: é
contigo que tenho de resolver as dúvidas do
absoluto, as linhas sem saída do infinito,
o azul e a treva que me pões em frente,
com as tuas mãos pousadas no tampo do segredo,
para que eu abra a caixa dos sentimentos.
Nuno Júdice
tela de Elvira Amrhein
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