A sala escurecida,
o sofá marcado,
os tons esmaecidos pela vida,
em cada almofada algum recado.
O abajur ainda torto,
o gramophone.
Um romance aberto numa noite insone,
o gato mal desperto, quase morto.
Sua figura barroca,
descombinando.
Riscas do tempo denunciando
a vida decadente, meio louca.
O pó renitente no tapete,
cheiros diversos de descaso.
Um desalinho que você consente,
pendente, a flor que coloquei no vaso.
No ar uma ligeira bruma.
Você fuma seu amor rasgado e obsoleto:
essa coisa tanta e já nenhuma,
essa farsa tão pobre e amarrotada,
nosso caso mofando em branco e preto.
Flora Figueiredo
In Florescência
tela de Sir John Everett Millais
Nenhum comentário:
Postar um comentário