Um fluído morno escorre, aos delíquios da sesta,
e circula, através dos ramos, e enche a flora,
em filtros de luxúria, ao sol que as folhas cresta,
coando o orvalho aromal que a madrugada chora...
Ao calor do áureo estio, esfolha-se a floresta;
arfa, em ondas de eflúvio, a paisagem sonora,
no ouro vivo e letal que esparge a luz funesta,
na seiva que palpita em ânsias de pletora.
E a Terra, toda em flor, em beijos longos arde,
até que desça ao mundo o mistério da tarde,
na transfiguração azul de uma apoteose.
E até que a noite sorva o aroma das cimeiras,
a selva, emaranhada, em estos de nevrose,
move languidamente os leques das palmeiras...
Cassiano Ricardo
foto de sekundo no Flickr
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