18/01/2011

CANTO NUPCIAL




Agora que estás amadurecida para o amor
e em teu sexo a peregrinação das luas se sucede,
escuta, Amada, o meu canto nupcial.

De tua fronde penderão corimbos,
anêmonas e as últimas pervincas dilatadas em maio;
teus seios recenderão a malvas adormecidas
no sereno das madrugadas suspensas;
uma orquídea equatorial, grande como um símbolo,
cingirás ao ventre
e, em teu sexo nu, a flor estonteante
de tua própria pureza conservada.

Quero-te assim — floral, assim meio bárbara,
que o nosso amor contém um pouco da força dionisíaca
da terra,
e teu ventre redondo — abrigo de sóis —
palpita na esperança genital da espécie.

No chão, tomando-te os cabelos, ansiosa de meu amor de esposo,
gritarás aos caules que nos cercam, para as frondes que nos cobrem,
que propício é o tempo de tua flor esmagada
se tornar em fruto.

E rolaremos nos rituais sagrados da progênie:
teus seios — como duas luas gêmeas — crescerão em suas fases;
teu ventre, penetrado de vida, se distenderá na lenteza das horas
e o próprio chão em torno se gretará pelas raízes
que emergem sôfregas de ser!

Ivo Barroso
Tradução de Curt Meyer - Clason
Tela  Geraint (Geraint and Enid)c.1860 Arthur Hughes

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