I
Sei de alguém que só recita
Poesia que entristece,
Porque na casa onde habita,
Onde sofre, onde adoece,
Só recebe uma visita,
Escondida numa prece
Ou numa frase bonita:
Só a musa lhe aparece.
Lembra coisas que comovem.
Mas quem é que vai chorar
Tendo versos pra rimar?
E enquanto os lábios movem,
As tristezas se dissolvem
Como as neblinas no ar.
II
Nas noites cheias de estrelas
A saudade suaviso.
Tenho olhos para vê-las,
É tudo quanto preciso.
Numa estrela como aquelas,
Nalguns versos de improviso,
Gravando a beleza delas
Minha vida romantizo:
Sou a Deusa, transportada
Num astro da imensidão,
Pelo céu toda abraçada,
Como o formoso clarão
Da noite toda estrelada,
Brilhando na escuridão.
III
A realidade vazia
Deixarei pra quem quiser;
Prefiro ser esmoler
Do mundo da fantasia.
Acordar pedindo ao dia
Um raio de sol qualquer,
À rosa mais rosicler,
A perfumada ambrosia.
A poesia ao caminho
Do horizonte descoberto,
À noite um doce carinho,
E as asas do passarinho,
Para mirar mais de perto
O céu de estrelas coberto.
Débora Leão
In Remoto Sonho
foto de papaulo.martins no Flickr
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