18/01/2011

PENITÊNCIA





I

Ele dorme em mim
como um animal cansado
que gastou seu tempo
farejando alimentos.
Ele adormeceu lentamente
como um sonho vago
visto poucas vezes na imprecisão
das horas difusas de sono.
Ele repousa como um deus inerte
que não suporta afagos.
Ele descansa num esquecimento pardo
que não comporta entrudos.
Ele habita um compartimento escuro
que não permite estradas.

II

Cada rosnar seu
provoca um desgaste agudo
cada despertar seu
ocasiona um insônia eterna
toda lembrança sua
conduz a um sofrimento inútil
e a sua presença me traz
uma ausência incômoda.


III

Ele vive como um animal cansado
e eu o amamento
ele penetra num adormecer
sem sonhos
e eu o acompanho
ele repousa como um deus inerte
e eu o sustento
ele povoa um esquecimento pardo
e eu o visito
ele habita um compartimento  escuro
e eu o recolho.

Miriam Portela
In O Continente Possuído
tela Dipak Kundu
 

 

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