17/01/2011
SONETO
Em mim tu podes ver a quadra fria
Em que folhas, já poucas ou nenhumas,
Pendem do ramo trêmulo onde havia
Outrora ninhois e gorjeio e plumas.
Em mim contemplas essa luz que apaga
Quando no poente o dia se faz mudo
E pouco a pouco a negra noite o traga,
Gêmea da morte, que cancela tudo.
Em mim tu sentes resplender o fogo
Que ardia sob as cinzas do passado
E num leito de morte expira logo
Do quanto que o nutriu ora esgotado.
Sabê-lo faz o teu amor mais forte
Por quem em breve há de levar a morte.
William Shakespeare
Tradução de Ivo Barroso
tela de Sir Edward Burne-Jones
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