16/07/2011

TODAS AS MORTES


Já morri todas as mortes,
todas as mortes quero tornar a morrer:
morrer a morte de madeira na árvore,
morrer morte de pedra na montanha,
morte de terra no chão,
morte de folha na relva a crepitar no verão,
e a pobre morte de sangue no ser humano.

Flor quero ser quando nascer de novo,
árvore e relva quando de novo nascer,
peixe e gamo, pássaro e borboleta,
e dessas formas todas
o anelo irá conduzindo meus passos
para as dores mais altas
- as dores do ser humano.

Ó arco tenso a vibrar,
quando o punho do furioso anelo
os dois pólos da vida
tenta envergar até que os dois se toquem!
Mais uma vez e muitas vezes mais,
da morte ao nascimento, me perseguirás
na dolorosa via da materialização
- maravilhosa via da materialização.

Hermann Hesse
In Andares

Nenhum comentário: