enroscado sobre si mesmo
numa sonolência marota,
alheio ao mundo em volta,
eis o antipático gato.
ergue-se preguiçoso,
estremunha como quem não
quer nada - e de seu canto
sai faceiro à espreita.
meu hóspede predileto,
com certas regalias de
espaço, é um velho gato
matreiro (ignora ratos).
gato guapeca, de pelo
espesso, ronrona,
quando quer comida
enrosca-se-me à perna.
amigo dos telhados,
de serenatas noturnas,
costuma reaparecer com
a cara toda quebrada.
sobe ao colo da dona,
que lhe faz cafuné,
e de seu miado sofrido
sabe a música de cor.
o gato, dócil animal,
mestre da hipocrisia,
mas no viveiro da casa
é meu desenho essencial.
Hamilton Alves
In Homenzinho na Madrugada
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