Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho...Eu sou teu Rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
E chama-me teu filho...Eu sou teu Rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Depois a realeza, corpo e alma,
E regressei à Noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
E regressei à Noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa
In Poemas de Fernando Pessoa
Organização Cleonice Berardinelli
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