À senhora Heitor Usai
Alta noite, quando escreveis um poema qualquer
sem sentirdes o que escreveis,
olhai vossa mão - que vossa mão não vos pertence mais;
olhai como parece uma asa que viesse de longe.
Olhai a luz que de momento a momento
sai entre os dedos recurvos.
Olhai a Grande Mão que sobre ela se abate
e a faz deslizar sobre o papel estreito,
com o clamor silencioso da sabedoria,
com a suavidade do Céu
ou com a dureza do Inferno!
Se não credes, tocai com a outra mão inativa
as chagas da Mão que escreve.
Jorge de Lima
In Poesia Completa
tela Christie's Images
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