Agarro o azul do poema pelo fio
mais delgado da lã de seu discurso
e vou trançando as linhas do relâm-
pago no vidro opaco da janela.
Seu novelo de nuvens reduplica
a concreta visão desse animal
que se enreda em si mesmo, toureando
a púrpura do mito e se exibindo
diante da minha astúcia de momento.
Sou cheio de improviso. Sou portátil.
E sou noite e falácia. Sou impulso
e excesso de acidentes. Sou prodígio.
E agora que há sinais de ressonância
sou milícia verbal configurando
a subversão na zona do silêncio.
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Todo início é noturno. Todo início
é maior que seu tempo e sua agenda
de imprevistos. Mas todo início aguarda
a visita dos deuses e demônios.
Há fórmulas polidas nos subúrbios
da fala. Há densidades nos recintos
desprovidos de margens. E nos mínimos
detalhes de ruptura existe um sopro
de solidão que soa nesta vértebra
de audácia e persistência.
Alguém pertuba
o horário de recreio das palavras.
Gilberto Mendes Telles
Do livro Arte de armar, 1977
tela de Chris Simpson
Um comentário:
Bom dia Dione,
Obrigado pela visita ao meu blog, e pelo gentil comentário.
E parabéns por seu blog. Muito interessante e feito com muito cuidado.
Parabéns.
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