27/03/2011

ORIGEM
























Agarro o azul do poema pelo fio
mais delgado da lã de seu discurso
e vou trançando as linhas do relâm-
pago no vidro opaco da janela.

Seu novelo de nuvens reduplica
a concreta visão desse animal
que se enreda em si mesmo, toureando
a púrpura do mito e se exibindo
diante da minha astúcia de momento.

Sou cheio de improviso. Sou portátil.
E sou noite e falácia. Sou impulso
e excesso de acidentes. Sou prodígio.
E agora que há sinais de ressonância
sou milícia verbal configurando
a subversão na zona do silêncio.

****

Todo início é noturno. Todo início
é maior que seu tempo e sua agenda
de imprevistos. Mas todo início aguarda
a visita dos deuses e demônios.

Há fórmulas polidas nos subúrbios
da fala. Há densidades nos recintos
desprovidos de margens. E nos mínimos
detalhes de ruptura existe um sopro
de solidão que soa nesta vértebra
de audácia e persistência.
Alguém pertuba
o horário de recreio das palavras.

Gilberto Mendes Telles
Do livro Arte de armar, 1977
tela de Chris Simpson

Um comentário:

Oswaldo Antônio Begiato disse...

Bom dia Dione,

Obrigado pela visita ao meu blog, e pelo gentil comentário.
E parabéns por seu blog. Muito interessante e feito com muito cuidado.
Parabéns.