11/09/2008


Foto de cas

A ONDA

A onda vem do fundo, com raízes
filhas do firmamento submerso.
Sua elástica invasão foi levantada
pela potência pura do Oceano:
sua eternidade apareceu inundando
os pavilhões do poder profundo
e cada ser lhe deu sua resistência,
debulhou fogo frio em sua cintura
até que dos ramos da força
despegou o seu nevado poderio.

Vem como uma flor da terra
quando avançou com decidido aroma
até a magnitude da magnólia,
mas esta flor do fundo que rebentou
traz toda flor do fundo que rebentou
traz toda a flor que foi abolida,
traz todos os ramos que não arderam
e todo o manancial da brancura.

E assim quando suas pálpebras redondas,
seu volume, suas taças, seus corais
incham a pele do mar aparecendo
todo este ser de seres submarinos:
é a unidade do mar que se constrói:
a coluna do mar que se levanta:
todos os seus nascimentos e derrotas.

A escola do sal abriu as portas,
voou toda a luz golpeando o céu,
cresceu da noite até a aurora
a levedura do metal molhado,
toda a claridade se fez corola,
cresceu a flor até gastar a pedra,
subiu à morte o rio da espuma,
atacaram as plantas procelárias,
transbordou-se a rosa no aço:
os baluartes da água se dobraram
e o mar desmoronou sem derramar
a sua torre de cristal e calafrio.

Pablo Neruda
In Canto Geral

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