27/11/2008


Foto de Márcia Werlang

PERDI

Perdi o que mais puro entremostrara
a face transparente: nadam agora
peixes no aquário do silêncio.

Fui-me, tinha de ir, desvaneci-me,
dissipei-me nas asas que flutuando
em mim criaram pássaros.

A floresta das almas, impassível
como um silêncio de metal, pesando
na noite, me tecia.

A noite me tecia. Refluindo
para o que, rijo muro, me impedia
a visão do translúcido,

desci nas águas turvas escutando
um, canto longe, um canto tão distante
que o mundo em mim morria,

que o mundo em mim de novo se criava
e eu era um deus cativo de si mesmo,
dissolvido na treva.

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Discurso no Deserto

2 comentários:

Didizoka disse...

oieee amiga adorei seu blog!
bjoca...

Didizoka disse...

oieee amiga adorei seu blog!
bjoca...