15/11/2008


Joaquin Sorolla y Bastida

PONTEIO SUSPIROSO

Que ai de mi!
Gonçalves Dias

A tua boca madura
ai de mim!
pulsasndo na noite escura
me fez buscar-te sonhando
praia clara me esperando
e recendendo a jasmim.

Não sei nem por onde ia,
ai de mim!
Que tristeza resistia
no olhar magoado distante
na curva tênue do dia
do teu corpo palpitante
nas mãos jogadas no branco
do vestido esvoaçante
na lua sobre o barranco
ai de mim!

Dormi sobre as ribanceiras
na encosta dos laranjais.
Vi a manhã (a primeira)
toda molhada de ais.
Laranjeira, laranjeira
a quem irás perfumar?
Diz que a mais linda praieira
vai breve se casar...

Lua louca lua antiga
prepara teu enxoval!
Lua velha lua amiga
tão branca no laranjal.
Eu vou cantando na vida
que ai de mim!
procuro a face da ausente
praia desaparecida
na morte como na vida
na casa de antigamente
na rua por onde vem...
Coração, dize somente:
Ai de mim!
Surdo louco impenitente
num suspiro mais ardente:
Ai de mim!

Alphonsus de G. Filho,
In Água do Tempo

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