20/12/2008


Foto de JustABigGeek

CHEGA O VERÃO

Vamos abrir as janelas ao vento salgado do mar.
Chega o verão, vagarosa nau, de um trêmulo horizonte,
com seu andar de floresta e seus odores enevoados
de resinas espesas e tormentas no alto da tarde.

Nuvens de cupins jorram da sombra, girando em cegueira.
Asas sem peso chovem o arco-íris, semeiam nácar pelos meus dedos.
Oh, por que serão feitas mínimas vidas
com tanta perfeição para instantâneas se desfazerem?

Vamos fechar as janelas sobre a noite, com seu vento de fogo.
Aqui vêm, despojados, os cupins pelas mesas,
arrastando-se por entre as próprias asas caídas.
Aqui vêm, num cortejo de desvalidos, de sentenciados...

Oh, dizei-me, dizei-me, que anjos, que santos, que potências
se ocupam desse silêncio movediço, do apressado
itinerário dos morimbundos frágeis que passam!

Cecília Meireles
In Poemas I

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