25/12/2008
Foto de Laís Souza - Acácia Amarela
A CANÇÃO DA CIGARRA
Todos os anos, em meu pé de acácia,
Vem zunir a cigarra, no verão
Feliz na voz, indômita na audácia
Do vôo ao sol que esplende na amplidão!
E no meio das flores amarelas
Expande, alegremente, de surpresa,
Todas as suas confidências belas,
Embevecida pela Natureza.
Outra chega, e mais outra.Dentro em breve,
O concerto agradável principia
Num diapasão evanescente e leve
Que depois se alcandora em melodia.
Com as asas translúcidas, e os olhos
De um tom vidroso e quase angelical,
Na acácia verde, com seus jaldes folhos,
A cigarra parece cristal.
Enleia sua música envolvente,
Em cuja escala predomina o dó...
Gosto de ouví-la mais quando estou doente
Porque o enfermo quase vive só...
O que me encanta é essa união divina,
Essa mútua e fraterna admiração :
Se uma cigarra alegra sua sina,
Outra vem ajudá-la na canção.
Cigarra, minha irmã, quando te fores,
Após chegar o pensativo outono,
A pobre acácia não terá mais flores
E eu ficarei sozinho no abandono...
Rio, 04.12.1952
Sabino de Campos
In Natureza
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