04/01/2009


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POEMA

Os deuses me hão visitado,mas lúcido
os ignoro.A poesia é o sol que me visita
por entre os verdes ramos das árvores.
E o sol, como poesia intemporal num mundo velho,
me basta.

À mulher colho apenas o trigo da memória,
a maciez da nuca e dos cabelos,
o sol do ventre, louro, manso e indomável.
E a mulher, como enternecimento para triunfar da morte,
me basta.

A flor, como outro deus que triunfou do efêmero,
me espia para dentro da alma, onde é noite próxima.
Eis-me de regresso ao convívio dos deuses mutilados.
E a flor, como poesia monumental num mundo antigo,
me basta.

O pássaro é o que me surpreendo quando sinto.
Trago-o, emplumado e azul,dentro do peito.
Meu coração é uma paloma de asas líquidas e longas.
E o pássaro, como poesia triunfal num mundo agônico,
me basta.

A infância é aquela casa antiga, ou mansarda,
onde lâmpadas irreais velam palidamente
cadáveres de insepultadas memórias mortas.
E a infância, como poesia essencial num mundo mítico,
me basta.

Francisco Carvalho
In Dimensão das coisas

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