26/02/2009


Foto de Rodrigo Craveiro
Andorinhas diante do Salto do Itiquira

ANDORINHAS TÊNUES

Meu Deus, eu vago em andorinhas tênues,
Eu percorro os caminhos da loucura
E,é certo, um dia não regressarei.
É tudo louco. E denso.É louco.É louco.
Olhos que suspirais pelas partidas,
Mãos de anjos que o vento embalde trouxe,
Decepadas, sangrantes, torturadas.
Cantos que sobem de mim mesmo. Gritos.
Alguém que espera. E a luta. E esta certeza
De que somente ficará pulsando
Minha medonha lucidez, pulsando
E remordendo e alucinando, embalde!

Veio alguém de outros dias e me disse
Que eu estava a sonhar pelos caminhos.
Nem eu sabia, nem acreditei.
Quem sabe não estarei morto e sepulto
Naquele túmulo que ninguém conhece
E que me lembra o século XIV?
Ó mãos dos anjos, perfumai-me o rosto!
Cantai de manso, adormecei a bruma.
Voai ao mundo que diviso apenas.
Vêde a distância, o céu, o mar da infância.
Vêde que estendo as mãos e encontro o choro
E encontro a treva e a solidão. Sonhai!
Meu Deus, eu vago em andorinhas tênues
E é tudo longe e é tudo muito longe
E é tudo denso e louco. É tudo louco!

Alphonsus de Guimaraens Filho
In Nostalgia dos Anjos

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