21/03/2009


by Gustave Caillebotte » Rose Bush in Flower

INVOCAÇÃO

Amo-te mesmo nessa forma etérea
feita de ectoplasma condensado,
desligada dos planos da matéria,
sem volúpia, sem carne e sem pecado...

Sinto tuas vibrações de alma afetiva,
quando te invoco em minha solidão.
E tu chegas de manso, rediviva,
para me deslumbrar o coração.

Ah! como és bela nessas vestes alvas
que te envolvem o corpo escultural!
E há um trescalar de rosas e de malvas
à tua aparição angelical!...

Surges de leve, amor como um adejo
de pássaro ideal vindo do além
e quase me sufocas com teu beijo!
Que esquisito sabor teu beijo tem!...

E me falas da vida, sussurrando
frases de amor, num linguajar sidério,
que eu me esqueço que um dia,soluçando,
levei teu corpo morto ao cemitério!...

E junto com o teu, meu pensamento
perlustra mundos sobrenaturais,
sentindo, amor, esse deslumbramento
de saber que nós somos imortais!...

Depois desapareces, na agonia
do ectoplasma da mediunidade...
E eu fico só, dentro da noite fria,
quase morto de dor e de saudade...

Odilon Negrão
In Poente sem Sol

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