20/04/2009


Foto de guervos

OSCILA o incensório antigo
Em fendas e ouro ornamental.
Sem atenção absorto sigo
Os passos lentos do ritual

Mas são os braços invisíveis
E são os cantos que não são
E os incensórios de outros níveis
Que vê e ouve o coração.

Ah, sempre que o ritual acerta
Seus passos e seus ritmos bem,
O ritual que não há desperta
E a alma é o que é, não o que tem.

Oscila o incensório visto,
ouvidos cantos 'stão no ar,
Mas o ritual a que eu assisto
É um ritual de relembrar.

No grande Templo antenatal,
Antes de vida e alma e Deus...
E o xadrez do chão ritual
É o que é hoje a terra e os céus...

Fernando Pessoa
In Poesias Coligidas/Inéditas
23.09.1932

Um comentário:

experimental disse...

Gosto muito do seu blog, da selecção de fotografias belissimas e da poesia, principalmente de Fernando Pessoa, o «meu» grande poeta, como deve ser de muitas pessoas, que o compreendem, porque ele conseguiu exprimir em palavras o muito que a gente sente!...
Gostei de passar por aqui. Parabéns!...