Meu frágil eu, apanhador de minha alma, foi enredado desde cedo ao mar. Interpelavam-me os narcisos às sombras úmidas; as vagas inclementes acidulavam minha língua e minhas narinas. De que espuma, aquele branco gosto? De que mariscos, aquele olfato abissal?
Meu barco, gaivota da mais desamparada figura, soçobrava às ondas. Navegante das causas perdidas, recorri à poesia que por mim advogasse. Meu óbulo foi assim o mergulhar nas palavras encantadas . Meu destino foi sorver, gota a gota, de meu mar.
O resgate do labirinto das fossas é hoje este silêncio , interface, onde antes era ruído e mundo errático . Senhor de mim, creio que me venci. Ainda a duras penas recolho belezas, estas estrelas marejadas, aqui, acolá , e, deste Hades líquido, vou aprendendo a furtar leveza.
Herói sem grandes causas, minha glória é que experimento o amor, e como aquáticas, inebriadas, anêmonas sinto-me, então, a flutuar.
Fernando Campanella
In PalavreAres- Poemas,Crônicas & Imagens
tela Carlos Schwabe Swiss, 1866 - 1926 Spleen and Ideal
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