04/07/2009


Foto de Bahrbara And

CHUVA

Nem a chuva miúda me abate!
Nem o frio que enregela o nariz
me desarma o sorriso,
me faz débil.
Nem o cinza da tarde, o céu descorado,
a terra molhada, o humo encharcado,
me escurece o olhar,
me faz cega.

Nessa hora, aqui dentro do peito,
brota a vida,
tem sumo,
tempero,
quentura,
- mistura de mel e sal grosso-
tem abraço,
- feito laço de mãos e pescoço-
tem carinho,
-mistura de beijo e de ninho.

Nem a chuva lá fora resfria minh´alma...
Meu desejo de ver e viver e brotar
sem idade, sem medo, sem dor,
me dá asas:
sou sabiá da mata,
mata a saudade,
requenta o amor.

E quando o sol mandrião se levanta
febril e fanhoso,
e com lenço de nuvem
se assoa amuado,
o leite que espirra da teta da vaca
clareia o camargo,
desperta seu cheiro
e afina meu solo de amor pela vida
levada.

A chuva é a rega
que rega meu peito.

Mila Ramos

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