31/07/2009


by Gustave Caillebotte

CIDADE

Sou um efêmero e não demasiado descontente cidadão
de uma metrópole considerada moderna, porque todo
o gosto conhecido foi subtraído tanto dos mobiliários
e do exterior das casas quanto da topografia da cidade.
Aqui não encontrareis os vestígios de nenhum monu-
mento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas
à sua mais simples expressão, enfim! Estes milhões de
pessoas que não tem necessidade de se conhecer osten-
tam, de modo tão semelhante, a educação, o ofício e a
velhice, que a duração da vida deve ser várias vezes
menos longa que a consignada por uma louca estatística
para os povos do continente. Assim como, de minha janela,
vejo espectros novos rolando através da espessa e eterna
fumaça de carvão - nossa sombra dos bosques, nossa noite
de verão!- Erínias* novas, diante da casa de campo que é
minha pátria e todo o meu coração uma vez que tudo aqui
se assemelha a isto - a Morte sem prantos, nossa ativa filha
e criada, um Amor desesperado e um belo Crime choramin-
gando na lama da rua.

Arthur de Rimbaud
In Iluminações

* Erínias ou Eumênides eram as três deusas gregas,Tisífone,
Alecto e Megera, encarregadas de punir os crimes dos homens.
Os romanos chamavam-nas de Fúrias.

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