12/07/2009


Summer, 1890 by Dewing

A NEBULOSA

Que seja como nas ilhas:
eternamente domingo;
ou como os pés das mulheres,
sempre quentes,sempre frios;
ou as viagens dos sonhos:
não sabemos se partimos
nem tampouco se chegamos,
e no meio da história
geralmente despertamos.

Que seja como os enterros
e o equivoco do pranto,
como um navio atracando,
como os cegos nas esquinas
ou a noite no oceano.
Que seja inarticulável
como a poesia pura
no momento em que amamos.

Seja o murmúrio candente
das noivas iniciadas
ou as sestas compacentes
dos gatos por sobre os muros,
que seja como o clamor
do guerreiro atraiçoado
ou a tristeza do pai
quando o filho o abandona
atrás da grande cidade.

Seja a harmonia escorrida
entre os pedais do piano,
a cegueira das estátuas
no último dia do ano,
e tenha o cálculo frio
dos sonâmbulos andando.
Que seja assim, como as rosas,
e depois se entranhe no céu
como as grandes nebulosas.

Lêdo Ivo
In O Sinal Metafórico

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