24/08/2009


Cecília Meireles...

SALA CECÍLIA MEIRELES

Cecília,
tua casa agora é uma ilha
frente ao jardim antigo. Obeliscos
próximos perfeitamente te guardam
e anunciam, entre a família das árvores,
tua pureza solitária, a erguer-se em cal.

Cecília,
tua casa agora é navio
de argamassa e alvenaria
branco e azul, musical.

Cecília
de sete jardins
suspensos
habita agora a escala
absorta
dos sons a que se move seu navio.

Navio de grande calado
ele singra a Lapa, feudal,
e a figura de proa, sabemos
invisível, deixa estendal
de finos gestos, formosuras,
olhares claros, refloridas
frases de leve doutorado
a exercer visões profundas
sob uma graça oriental.

Cecília,
entre lótus,
Meireles,
frontispício de dois acordes
é a ideal anfitriã
que venturosa propicia
ao visitante uma precisa
música, um retrato
trágico ou risonho, máscara
oportuna a animar-se entre
as quatro palavras mágicas
de sua sala de visitas.

Cecília,Cecília, padroeira
de teu navio sensitivo
por largos mais amplos que esse
de tua casa transitiva
vem buscar-nos, singra conosco
rumo aquele ditoso pais
de cordilheiras e murmúrios
que já habitavas à distância
por um espelho de suspiros
e ausência - lá onde o tempo
era redondo e o pensamento
um acidente feliz.

Visita teus visitantes
com os ares da tua graça,
com jeito de quem não quis
sobrevoa-nos pela Praça
Paris, ó maga de fugas
precipita-nos
pelo teu mar absoluto
adentro,
intransigente Cecília sem luto,
a proferir na alvura,
alta (posesia)
a indestrutível palavra cintilume.

Lélia Coelho Frota
In Poesia Lembrada

Nenhum comentário: