04/10/2009


Foto de Anibal Gonca... no Flickr

A OUTRA MARGEM DO TEMPO XLII

Quando a primavera demora
em sua maturação e se ausenta
do mundo, somos somente inverno
a crestar as folhas, sol a queimar a relva.
Em nossos lábios, as estiagens inscrevem
a sede das chuvas, a solidão do azul.
Somos apenas seixos de um rio
abandonado pelas águas,
ninho esquecido pelos vôos.
Entretanto, no fundo da nossa vida,
há sempre um menino a brincar
com as tardes de novembro.
Essa criança nasceu para fazer
do verão uma festa sempre anunciada.
Por isso toda espera adormece
as rochas, dá floração às árvores mortas.
Somos somente a sagração dos frutos maduros.
Há momentos em que a primavera
palpita no cerne de todo deserto.

Alexandre Bonafim
Blog Arquipélago do Silêncio

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