16/11/2009

DESIDERATA



A poesia, se um dia de mim se for,
que eu não a renegue, nem de meus poemas
eu diga, ‘ah um dia isto tresloucado eu fiz’.

Quando o tempo da mais morna sensatez
ao chão me puxar , como um laivo de razão
a ensombrar os deuses, e as horas
vierem despidas, desfolhados na vastidão,
que eu não cerre as pálpebras
e mumure, ' consummatum est,
foi tudo desvio e dissipação’.

E se não mais me vibrarem os tímbalos
e de mim restarem tão somente
o silêncio imune e a cinza amorfa,
que de mim eu me lembre
como um acendedor de palavras,

e que eu me leia, na noite,
como se lêem os mosaicos dos sonhos,
os versos, o melhor de meus atos,
a mais sublime, libertária , rendição.

Fernando Campanella
In PalavreAres- Poemas,Crônicas & Imagens
                 tela Alphonse Mucha                 

Um comentário:

Fernando Campanella disse...

Muito obrigado, querida amiga, pela postagem de meu poema aqui. Teu apoio enche minha alma de alegria. E prezo demais nossa amizade também. Teu blog como sempre primando pela qualidade dos poemas, pela maravilhosa escolha das fotos. Bjos.