20/12/2009


by Auguste Rodin

SAGA PARA ODE

É preciso a distância para chegar
onde o poema parte e se reparte
com cinzas nocturnas e a madrugada nas mãos

é preciso o lugar ainda que doa
a emoção azul sangrar por dentro
com o pensamento na galáxia terna do olhar

é preciso tudo como haver morte e flores
na raiz ao vento dos braços inteiros que se deram
por um nome uma ideia rubra nos lábios da liberdade

é preciso ver musgo e alegria até às ilhargas
da tua imagem garça a deslizar

e sorver água na exuberância lustral dos teus seios

é preciso a insurrecta solidão dalguns dias
quando os arquipélagos de ser dizem barco
e os teus passos espreitam
e tímidos percorrem o horizonte coral do silêncio

é preciso inventar-te porque existes
enquanto os deuses adormecem nas páginas dos livros
e o real e a infinita medida do canto
como acender as luzes ao meio-dia
e no mais sol das pétalas abertas
verter a seiva a singrar na terra

é preciso, meu amor, percorrer o tempo que nos deram
suspensos onde estamos nas pálpebras do verão.

Luís Carlos Patraquim
In O Osso Côncavo e Outros Poemas

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