20/12/2009
Foto de Jussara Saar... no Flickr
TRABALHO FRIO
Diz-me, do tempo ressoado
na tua esfera parcial e doce,
não ouves acaso o surdo gemido?
Não sentes de lenta maneira,
em trabalho tremulo e ávido,
a insistente noite que volta?
Áridos sais e sangues aéreos,
atropelado correr de rios,
a tremer constata o testamunho
Aumento obscuro de paredes,
crescimento brusco de portas,
delirante povoação de estímulos,
circulação implacáveis.
Em redor, de infinito modo,
em propaganda interminável,
de focinho armado e definido
o espaço ferve e se povoa.
Não ouves a constante vitória,
na corrida dos seres,
do tempo, lento como o fogo.
certo e espesso e hercúleo,
acumulando o seu volume
e aumentando a sua triste fibra?
Como uma planta perpétua,aumenta
seu delgado e pálido fio,
molhado de gotas que caem
sem som, na solidão.
Pablo Neruda
In Residência na Terra I
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