03/04/2010


foto by Bahman Farzad

DO AMOR

Assim que se é posto à prova
na cinza do óbvio, quando
atrás de um caminhão vazando
o homem que pediu sua mão
informa:
"está transportando líquido"
Podes virar santa se, em silêncio,
pões de modo gentil a mão no joelho dele
ou rainha do inferno se invectivas:
claro, se está pingando,
querias que transportasse o quê?
Amar é sofrimento de decantação,
produz ouro em pepitas,
elixires de longa vida,
nasce de seu acre
a árvore da juventude perpétua.
É como cuidar de um jardim,
quase imortal deleitar-se
com o cheiro forte do esterco,
um cheiro ruim de bom,
como disse o menino
quanto a porquinhos no chiqueiro.
É mais que violento o amor.

Adélia Prado
In Oráculo de Maio

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