20/07/2010

SONETO DA SERENIDADE





















Há certas noites em que o corpo cabe
perfeitamente em si, noutros, no mundo,
como se à alma tola o mais profundo
um sonho fosse (que oxalá se acabe).

Nesse momento, o que há por trás de tudo
é quase só matéria, firme e calma:
rostos do mundo, humildes, mínima alma
sem a aura grave da moral. Sós. Mudos.

A ignorância, sábia, nessa hora,
é cúmplice com o nada ou o esquecimento:
que a vida, cega, vaga dentro e fora.

Em noites tais o ser, sereno, estante,
repousa no remanso do momento:
move-se bem em Tao. Zen-dita instante.

Vicente Cechelero
In A Língua das Sombras
foto da Galeria de Ilikethenight no Flickr

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