13/07/2010

UMA VEZ, HÁ MIL ANOS




























Inquieto e com vontade de viajar,
ao acordar de um sonho esfacelado,
ouço dentro da noite a melodia
que os meus bambus estão a sussurar.

Em vez de me aquietar, de me deitar,
eu me sinto arrancar dos velhos trilhos
a me precipitar, a ir pelo ar
em vôo picado rumo ao infinito.

Uma vez, há mil anos, existiu
uma terra natal e um jardim onde
no canteiro onde se enterravam pássaros
a neve enrijecia os açafrões.

Quisera eu me estender em vôo de pássaro,
além do desterro que me enclausura,
até  lá  - até aqueles tempos cujo
ouro até hoje para mim fulgura.

Hermann Hesse
in Andares
tela by Rene Magritte

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