28/08/2010

CATECISMO




















No catecismo de minha infância
havia um anjo aterrador,
desses que percorrem o céu num espanto,
entre nuvens negras
a espalhar desgraças pelo mundo.
Até hoje ele vive comigo,
esse anjo que se perdeu,
fica atrás da porta do quarto
e se mostra sempre
quando há algum som de uma música
ou alguma palavra inútil para um poema.
Até hoje vive comigo
ainda aterrador
como era nas páginas
do catecismo da minha infância.
Mas sempre que quero rir
chamo-o pelo nome bíblico
e como ele bebo vinho
a inventar mulheres para meu amor.
Nunca me faltou esse anjo aterrador
do catecismo de minha infância,
tem sempre uma luz que brilha no escuro
e até hoje não sabe porque vive banido,
esse anjo
que mora atrás de minha porta,
sem compreender
porque também vivo escondido de mim.

Álvaro Alves de Faria
in “Os dias derradeiros”
foto by Galeria de CaptPiper

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