22/09/2010

XV

















Sei, bem sei, com mortos não se fizeram
muros, nem máquinas, nem padarias;
talvez seja assim, sem dúvida, mas
minha alma não se nutre de edifícios,
não recebo saúde das usinas,
nem tampouco tristeza.
Meu quebrando é daqueles
que me precederam, me deram sol,
que me comunicaram existências,
e agora que faço com o heroísmo
dos soldados e dos engenheiros?
Onde está o sorriso
ou a pintura comunicativa,
ou a palavra que ensina,
ou o riso, o riso,
a clara gargalhada
daqueles que perdi por essas ruas,
por estes tempos, por estas regiões
onde me detive e eles continuaram
até que terminassem suas viagens?

Pablo Neruda
In Elegia
tela de Lutz Münzfeld

 

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