17/10/2010

MIRAGEM























Já vejo, tão perto de tudo,
o riso absorto dos clones.
Mas riem do quê, esses
"coisas"? Riem de mim,
oh tristeza! Riem de ti
e dos tempos passados ,
quando amar era entrar
no gueto absoluto do corpo,
atingir a miragem do eterno
segundo, sentir o tremor
nas brasas divinas, curvar-se
ao insólito abraço do sonho.
Agora me olham assim,
como se eu é que fosse
o estranho no ninho, eu,
o arcaico, o antigo, o nenhum.
Me olham, com esses olhos
crispados de crenças mundanas,
me olham  como se fosse eu
uma cópia de um óbito,
figura de um "site" qualquer.
Me olham, de hipócritas,
como se fossem, já,
os donos do mundo.

Alcides Buss
In Olhar a Vida
tela de Debby Frigge

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