13/11/2010

A CANÇÃO DE ROMEU



















Abre a janela... Acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra, corda a corda,
Ao luar!

As estrelas surgiram
Todas: e o limpo véu,
Como lírios alvíssimos, cobriram
Do céu.

De todas a mais bela
Não veio inda, porém:
Falta uma estrela... És tu! Abre a janela,
E vem!
A alva cortina ansiosa
Do leito entreabre; e, ao chão
Saltando, o ouvido presta à harmoniosa
Canção.

Solta os cabelos cheios
De aroma: e seminus,
Surjam formosos, trêmulos, teus seios
À luz.

Repousa o espaço mudo;
Nem uma aragem, vês?
Tudo é silêncio, tudo calma, tudo
Mudez.
Abre a janela, acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra corda a corda,
Ao luar!

Que puro céu! Que pura
Noite! Nem um rumor...
Só a guitarra em minhas mãos murmura:
Amor!...
Não foi o vento brando
Que ouviste soar aqui:
É o choro da guitarra, perguntando
Por ti.

Não foi a ave que ouviste
Chilrando no jardim:
É a guitarra que geme e trila triste
Assim.
Vens, que esta voz secreta
É o canto de Romeu!
Acorda! Quem te chama, Julieta,
Sou eu!

Porém... Ó cotovia,
Silêncio! A aurora, em véus
De névoa e rosas, não descobre o dia
Nos céus...

Silêncio! Que ela acorda...
Já fulge o seu olhar...
Adormeça a guitarra, corda a corda,
Ao luar!

Olavo Bilac
Retirado do site A Voz da Poesia
tela de Henri William Bumbury

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