10/11/2010

MOFO


A sala escurecida,
o sofá marcado,
os tons esmaecidos pela vida,
em cada almofada algum recado.

O abajur ainda torto,
o gramophone.
Um romance aberto numa noite insone,
o gato mal desperto, quase morto.

Sua figura barroca,
descombinando.
Riscas do tempo denunciando
a vida decadente, meio louca.

O pó renitente no tapete,
cheiros diversos de descaso.
Um desalinho que você consente,
pendente, a flor que coloquei no vaso.

No ar uma ligeira bruma.
Você fuma seu amor rasgado e obsoleto:
essa coisa tanta e já nenhuma,
essa farsa tão pobre e amarrotada,
nosso caso mofando em branco e preto.

Flora Figueiredo
In Florescência

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