16/11/2010
OS DOIS ESTRANHOS
Todos os amantes terminam separados.
O amor é um barco que veleja
a maré que se levanta quando a balsa fende a água unida na
laguna que suga os clarões da terra
o avanço de uma hélice na noite estrelada.
Aos que viram o dia abrir-se como a cauda de um pavão
ou atravessam a tarde coberta de escamas
aos que ficam abraçados em camas sempre estreitas
e partilham a respiração do êxtase ouvindo uma torneira gotejar
na sombra
está reservada a separação
como uma tatuagem que o tempo inscreve na anca bem-amada.
A porta antes fechada se abre para sempre
para que os corpos se cruzem e não se reconheçam.
Amor é escuridão. E quando a luz se acende
somos dois estranhos que evitam olhar-se.
Lêdo Ivo
In Curral de Peixe
foto de Extra Medium no Flickr
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