16/11/2010

UM SORRISO




















Vinha caindo a tarde. Era um poente de agosto.
A sombra já enoitava as moitas. A umidade
aveludada de musgo. E tanta suavidade
Havia, de fazer chorar nesse sol-posto.

A viração do oceano acariciava o rosto
como incorpóreas mãos.Fosse mágoa ou saudade,
Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade.
- Foi então que senti sorrir o meu desgosto...

Ao fundo do mar batia a crista dos escolhos...
Depois o céu...e mar e céus azuis: dir-se-ia
Prolongarem a cor ingênua de teus olhos...

A paisagem ficou espiritualizada.
Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia
Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...

Manuel Bandeira
In A Cinza das Horas
foto de William Dalton no Flickr

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