27/12/2010
A CANÇÃO DO AMOR AINDA POSSÍVEL
I
Nas réstias da existência
ainda creio no amor
- ainda creio na canção -
não como um peixe fuzilado,
mas como um velho pescador
anoitecido em sua rede
após conhecer os mares de viver.
Creio na canção ainda e ainda,
- sem tempo de chegar e partir -
não como um pássaro desatinado,
mas como um velho pastor
após conhecer seu rebalho na terra.
II
Oh mar,
eu te ouço
e a pulsação das tuas águas
é sangue em minhas veias.
Ah rebanhos,
todos as arquiteturas de sonhos
pousam em meu cajado,
III
É sempre a mesma voragem
na coreografia das águas.
É sempre o mesmo agasalho
nas tecituras das ovelhas.
É sempre a minha escuna
devorando a carne.
É sempre os meus colibris
sugando as flores dos campos.
IV
São quatro cavalos de fogo
esculpidos na sonoridade das palavras.
São quatro colóquios
que um dia eu trouxe
retidos nos meus gestos.
E são tantas as vozes
que me chamam
para contar-te
e cantar-te
as metáforas do amor.
Eulália Maria Radtke
In O Sermão das Sete Palavras
foto de Flávio Cruvinel Brandão
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário