05/12/2010

A GUARDIÃ DE REBANHOS


















I

Mulher de Eva,
mulher de seda
plebéia ou rainha.

Mulher da vida,
ligas penas e plumas.

Mulher do mundo,
 espelhos linhos e tafetás.

Mulher da rua,
ouro peles e xales de franjas.

Moça do fado.

Mulher da zona,
à-toa do fandango da comédia mundana
fêmea e cortesã.

Ainda plebéia ou rainha,
mulher decaída égua loba e andorinha.

Ainda plebéia ou rainha,
mulher de vidro de má-nota errada
ou vadia.

Mulher plebéia do meio ou rainha,
das camas insalubres, colchas de seda
dos guetos e sozinha.

Mulher mágica,
meio peixe meio lua
vítimas domésticas,
- quase feias -
enrugadas frontes na comovente indiferença
pela beleza.

Gazelas e borboletas,
inquietantes, sinuosas e fugidias
como a areia no deserto.

Vênus lascivas,
- garças selvagems voando suas asas
em perfeita solidão.

Mulher do manto e da reza,
campesinas graves e duras
como as estrofes de uma ode.

Mulher de crinas, cavalas,
Safos virís e lúdicas,
cosedeiras de portas entreabertas.

Joanas D'arc e Amélias
Evitas e Leopoldinas
Indiras e Anitas
Duquesas de Windsor e Marias Bonitas
Princesas e Maria da Silva,

todas rainhas,
antigas e sagradas copmo a carne e o sangue.

Eulália Maria Radtke
In Lavra Lírica
Tela de Karen Dupré

Nenhum comentário: