16/12/2010

NATAL























Quando o  Natal acontecer,
na fornalha jogaremos todo nosso desamor.
E exultantes nos despiremos de toda vã soberba.

De azul e branco vestiremos todos aqueles irmãos
que ainda não aprendemos a conhecer amar e perdoar.

Irmanados no mesmo ágape.
Beberemos vinho de nossas videiras.
Comeremos carne de nossas vitelas.
Maçãs de nossas macieiras.Pão de nossas searas.

Quando o Natal brilhar,
queremos sonhar e sonhar:
Irmãos do oriente e do ocidente
antevendo o milagre da gazela e do leão
bebendo na mesma fonte. O gavião e o sabiá,
a pomba e o corvo pousando na mesma casuarina.

Quando o Natal chegar,
recapitularemos o Sermão da Montanha.
E congregados no mesmo holocausto
partilharemos a dor das chibatadas.

À mesma mesa sentaremos todos.
Todos vestidos de azul e branco
para partir o pão ázimo de nossos trigais.
Para retribuir o vinho de nossas vinhas.
A lã de nossas ovelhas. O azeite de nossos olivais.
O arroz de nossos arrozais. O mel de nossas colméias.

Quando dezembro acontecer,
elevaremos salmos pelos condenados à geena.
E litanias entoaremos pela conciliação entre
lobos e cordeiros. Entre abutres e andorinhas.
Pela extinção do vulcão que ruge sobre nossa angústia.

Nesta noite, a última talvez,
a única oferenda pura e duradoura,
o único presente definitivo que um dará ao outro,
será o amplexo da paz e o ósculo do amor e do perdão.

Luíz Carlos Salamí
In Girassóis Vermelhos
tela de Gillian Lawson

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