09/03/2011

SONETO



Seja falar, escrever, olhar sequer
Sempre inaparentes somos. Nosso ente
Não pode, verbo ou livro, em si conter.
A alma nos fica longe infindamente.
Pensamentos que dermos ou quisermos
Ser alma nossa em gestos revelada
Coração cerrado fica o que tivermos,
De nós mesmos é sempre ignorada.
Abismos de alma intransponíveis
Por pensar ou manha de o parecer.
Ao mais fundo de nós irredutíveis
Quando ao pensar o ser queremos dizer.
Sonhos de nós, as almas lucilantes,
E duns pra outros sonhos doutros antes.

Fernando Pessoa
In poemas ingleses
Trad. de José Blanc
foto de  lifes26

Nenhum comentário: