31/05/2011

O AMOR PERDIDO























Os meus desejos vão em pós da amada
em regueiros tranquilos ou violentos
e ao seu olhar se sentem agitados
como os arbustos sob a ação do vento.

Meus olhos tremem quando em tarde escura
a adivinham ao longo dos carreiros;
já não sabem olhar para as alturas,
de vez que veem na terra seus luzeiros.

E não naufragará sob os teus olhos
meu coração como uma barca pobre;
o meu amor te pesará nos ombros,
tua garganta esconderá meu nome.

Meus passos pisarão sendas dolentes,
extinguirão meus olhos as estrelas,
e perfurando a noite em que me encontre
arderá teu prazer em minha pena.

Minhas mãos colherão flores e frutos
- e embora os colham estarão vazias-,
amarão os racimos mais escuros,
desgranarão as últimas espigas.

E serão as varandas estrangeiras
a tua voz e o teu olhar distantes;
a lâmpada incendida da lembrança
as mãos iluminando no semblante.

Deixa-me amar-te mais neste momento.
Ama-me agora para não pensá-lo.
E no jardim que morrerá na sombra
deixa o repuxo prosseguir cantando...

Pablo Neruda
In O Rio Invisível
tela maison au Havre1915/Raoul Dufy

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