07/06/2011

REVER
























Ele - Por que estás hoje esquiva, ó minha doce amiga?
Concede um beijo mais  a estes lábios famintos...
A árvore hoje, como ontem, tem os ramos retintos
de flores que alimenta, sustém, renova e abriga.
Comparavas meu beijo às abelhas inquietas
que buscam sem cessar a flor dos seus amores,
sussurando, a zumbir, nas moitas prediletas
o seu canto de gozo, hino ao perfume e às cores...
Ébrio de azul, de luz, perfume que bebeu,
o enxame sem descanso a faina continua...
Não há flores no chão nenhuma planta nua...
Será que a Primavera só para nós morreu?

Ela - Aperta-me ao teu peito! Ontem nos separamos!
E a saudade é mais suave do que todo o desejo.
Sonha, querido amigo! A lembrança de um beijo
é mais doce que todos os beijos que trocamos...
A noite sem piedade veio nos separar.
Foi tão triste, à tardinha, o nosso adeus de ontem!
Que as Primaveras sempre para nós dois repontem
nas árvores, nas flores, nos frutos do pomar...

Johann Wolfgang Von Goethe
Tradução de Edgard Roquette Pinto
In Poesias Escolhidas
tela Pablo Picasso

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