31/07/2011

O INÚTIL CELEIRO



Não adianta o poder
sem o poder do sangue
para explodir o cérebro
e disparar o coração.

É estéril o grão
Que se multiplica no celeiro:
O que vale é o campo
E a sua gravidez.

Não se pode ser herdeiro
Da própria herança - e da vida
Se o que se carrega é a morte.

Deito-me à espera do vento
que metraga alguma coisa fértil
mas sinto que é tarde - tornei-me
um estrangeiro da seiva
e me perdi do suicídio e da loucura:
meu sangue corre certo
na pressão normal
e meu risco de morrer de amor
se fasta velozmente
em linhas paralelas.

Resta-me todo o tempo
para acumular os grãos
que vão se apodrecer
inutilmente no celeiro.

Álvaro Pacheco
In A Balada & Outros Poemas
Artists / Hassam / September Clouds

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